
Um relatório recente da Agência Nacional de Águas e Saneamento Básico (ANA) revela que, entre os meses de fevereiro e março de 2025, o Brasil enfrentou um cenário de seca com comportamentos distintos entre as regiões. O monitoramento climático indicou que o Norte e o Centro-Oeste do país registraram uma estiagem consideravelmente mais amena, enquanto o Sul, o Sudeste e o Nordeste lidaram com impactos hídricos mais severos.
A análise, realizada em parceria com instituições como o Instituto Nacional de Meteorologia (Inmet) e a Embrapa, considerou indicadores como volume de chuvas, níveis dos reservatórios, fluxo dos rios e impacto sobre a agricultura e o abastecimento humano. Os dados foram reunidos no Monitor de Secas, ferramenta pública mantida pela ANA com atualizações mensais.
Condições climáticas favoreceram estabilidade no Norte e Centro-Oeste
As regiões Norte e Centro-Oeste apresentaram melhores condições hidrológicas no período analisado. Apesar das temperaturas elevadas, a distribuição de chuvas foi suficiente para evitar um agravamento da estiagem. Estados como Amazonas, Mato Grosso e Goiás mantiveram seus principais reservatórios em níveis aceitáveis e não registraram interrupções relevantes no fornecimento de água.
A explicação para esse cenário mais positivo está na combinação de fatores climáticos e ambientais. A presença da Floresta Amazônica e de aquíferos profundos contribui para a manutenção da umidade relativa do ar, enquanto o regime de chuvas, mesmo irregular, foi mais generoso nessas áreas. Além disso, as bacias hidrográficas locais apresentaram maior capacidade de armazenamento e resposta rápida à reposição hídrica.
Seca se intensificou em outras regiões do país
Em contraste, o relatório aponta que a situação se deteriorou nas regiões Sul, Sudeste e Nordeste. A escassez de chuvas em março afetou drasticamente os reservatórios e provocou perdas na produção agrícola, sobretudo em estados como Rio Grande do Sul, Minas Gerais e Bahia. Algumas cidades chegaram a adotar medidas emergenciais, como rodízio no abastecimento de água e restrições à irrigação.
No caso do Sul, a situação foi agravada pelo prolongamento da estiagem que já vinha sendo registrada desde o segundo semestre de 2024. Em muitos municípios gaúchos, por exemplo, os níveis dos rios ficaram abaixo da média histórica, comprometendo não apenas o abastecimento humano, mas também a geração de energia.
Importância do monitoramento e da gestão hídrica preventiva
O Monitor de Secas da ANA tem se mostrado uma ferramenta estratégica para governos estaduais e municipais planejarem ações preventivas e de resposta rápida. Ao identificar áreas com maior vulnerabilidade hídrica, é possível antecipar medidas como campanhas de uso racional da água, reforço em sistemas de captação e distribuição, além de apoio ao setor agrícola.
A disparidade entre regiões também reforça a necessidade de políticas públicas adaptadas às características locais. Enquanto o Norte e o Centro-Oeste se beneficiaram de condições naturais favoráveis neste ciclo, isso não elimina o risco de agravamento futuro — especialmente com o avanço das mudanças climáticas e o aumento da pressão sobre os recursos hídricos.
Perspectivas e desafios para os próximos meses
Especialistas alertam que o período seco, que tradicionalmente se intensifica entre maio e agosto, pode colocar à prova a resiliência hídrica dessas regiões. Embora o cenário atual seja mais confortável no Norte e Centro-Oeste, a continuidade do monitoramento e a adoção de estratégias de gestão integrada da água serão essenciais para evitar crises.
Ao mesmo tempo, o cenário mais crítico nas demais regiões exige resposta rápida das autoridades. Medidas emergenciais devem ser acompanhadas por investimentos em infraestrutura, recuperação de nascentes, reflorestamento e conscientização da população sobre o uso responsável da água.