
As tentativas do Senado brasileiro de reverter o tarifaço imposto pelos Estados Unidos encontram um impasse inesperado: a chamada “cláusula Bolsonaro”. De acordo com integrantes da comitiva parlamentar que está em Washington, o julgamento do ex-presidente Jair Bolsonaro tornou-se um ponto central e politizado nas conversas com autoridades norte-americanas, comprometendo o avanço de uma negociação que, originalmente, deveria ter foco econômico e comercial.
O aumento de 50% nas tarifas de importação anunciado pelo ex-presidente Donald Trump gerou grande preocupação entre setores estratégicos da economia brasileira. Empresas locais temem prejuízos bilionários se a taxação for mantida, o que levou o Senado a formar uma comitiva multipartidária para negociar diretamente nos EUA.
No entanto, senadores relatam que o julgamento de Jair Bolsonaro, e sua influência política sobre a extrema direita brasileira, têm sido usados como moeda de troca nas conversas. A “cláusula Bolsonaro” — expressão adotada pelos parlamentares — seria a exigência informal, vinda de grupos conservadores nos EUA, de que o Brasil alivie a situação jurídica do ex-presidente em troca de avanços na pauta comercial.
Essa condição vem sendo considerada um obstáculo diplomático, pois mistura política doméstica com questões de comércio exterior. O senador Rogério Carvalho afirmou que essa interferência é inaceitável e enfraquece o Brasil como interlocutor. Para ele, o país está sendo pressionado a abrir mão de sua autonomia institucional para conseguir um alívio tarifário.
A situação se agravou com declarações públicas de Eduardo Bolsonaro, deputado federal e filho do ex-presidente. Ele afirmou que está atuando para “sabotar” a agenda da comitiva brasileira em Washington, impedindo avanços enquanto seu pai for tratado, segundo ele, como “criminoso político”. O discurso, que teve repercussão internacional, gerou desconforto entre os próprios aliados do PL e foi visto por muitos como um ataque direto ao interesse nacional.
Apesar do clima tenso, a missão oficial do Senado continua em andamento. O grupo de senadores manteve reuniões com representantes da Câmara de Comércio, da embaixada do Brasil nos EUA e com parlamentares democratas e republicanos. O objetivo é reforçar que a taxação prejudica setores como o agronegócio, a indústria de transformação e até empresas estratégicas como a Embraer, afetando a balança comercial bilateral.