
Em um novo capítulo da série de investigações que envolvem a família Bolsonaro, um relatório da Polícia Federal (PF) trouxe à tona alegações de que o deputado federal Eduardo Bolsonaro (PL-SP) teria utilizado a conta bancária de sua esposa, Heloísa Bolsonaro, como um artifício para ocultar dinheiro recebido de seu pai, o ex-presidente Jair Bolsonaro. A movimentação financeira, que teria ocorrido em meio a um contexto de intensas investigações, é vista pelos investigadores como uma estratégia para evitar possíveis bloqueios judiciais dos valores. A revelação surge a partir de análises do Conselho de Controle de Atividades Financeiras (Coaf), que acompanha as transações.
Segundo o relatório da PF, há indícios de que o parlamentar, que estava licenciado e atuando no exterior, teria utilizado a conta da esposa para movimentar recursos. O objetivo, conforme o documento, seria usar a conta de Heloísa “como conta de passagem, com a finalidade de evitar possíveis bloqueios em sua própria conta”. Essa ação, de acordo com as autoridades, faz parte de um esquema maior, no qual o ex-presidente e seu filho “se utilizaram de diversos artifícios para dissimular a origem e o destino de recursos financeiros, com o intuito de financiamento e suporte das atividades de natureza ilícita do parlamentar licenciado no e1xterior”.
A investigação da PF aponta uma série de movimentações financeiras suspeitas, incluindo transferências de valores significativos em momentos-chave das apurações. Um dos exemplos citados é o repasse de R$ 2 milhões de Jair Bolsonaro para a conta de sua esposa, Michelle Bolsonaro, um dia antes de seu depoimento à Polícia Federal. A falta de “qualquer justificativa” para a transação, destacada no relatório, levanta suspeitas de que a mesma estratégia de ocultação de bens foi utilizada. Em relação à transferência para Eduardo Bolsonaro, Jair Bolsonaro teria declarado à PF que enviou o valor para que o filho “não passasse necessidade”, embora os investigadores apontem a omissão de outros repasses.
A atuação de Eduardo Bolsonaro no exterior também é um ponto central da investigação. O relatório da PF sugere que as ações do deputado estavam alinhadas com o ex-presidente, com o objetivo de pressionar autoridades e o Judiciário. Eduardo, por sua vez, nega veementemente as acusações. Em uma nota divulgada nas redes sociais, o deputado afirmou que sua atuação nos Estados Unidos “jamais teve como objetivo interferir em qualquer processo em curso no Brasil”. No entanto, o material apreendido pela PF, incluindo mensagens e áudios, revela um cenário de tensão e discordâncias entre pai e filho. Em uma das conversas, Eduardo expressa frustração com o pai, chegando a dizer “Vc tem sido o meu maior empecilho para poder te ajudar”, em uma discussão sobre sua atuação internacional.
Com a conclusão do relatório e o indiciamento de Jair e Eduardo Bolsonaro, o caso foi encaminhado ao Supremo Tribunal Federal (STF). A decisão da Corte sobre as denúncias terá grande peso não apenas para o futuro dos investigados, mas também para o debate público sobre as regras de transparência e as responsabilidades de figuras políticas no Brasil. O desdobramento dessa investigação demonstra a complexidade de apurações financeiras e a forma como as autoridades buscam rastrear recursos em meio a grandes operações.